segunda-feira, 26 de março de 2012

O concurso público e a sua vida

As pessoas me punem porque sou contra o formato de contratação por processo seletivo de ingresso de novos funcionários no setor público da economia ou que eu seja contra os servidores públicos só porque eu considero o seu excesso um câncer que tem que ser curado no Brasil.

Em minha mente vem um velho ditado que diz: contra fatos não há argumentos! Então vamos aos meus argumentos.

Qual custo de formação de um profissional no Brasil? Peguemos o custo de uma criança que iniciará suas atividades escolares com 05 anos de idade. Se considerarmos que o preço da mensalidade é de R$ 500 e que os pais bancarão até essa pessoa completar 18 anos (neste caso depuramos a inflação e os ajustes sazonais do período como, por exemplo, elevação salarial da mão de obra educacional), teremos a seguinte conta:

Custo de 01 Ano de Educação = 12 meses x R$ 500 de mensalidade = R$ 6.000

Custeio Educacional na 1ª Etapa de Vida = 13 anos x R$ 6.000 = R$ 78.000

Cabe destacar que não entram em meus cálculos os valores dos materiais que a criança utilizará e os cursos extras, como inglês, que ela fará ao longo do tempo de aprendizado.

Ao final desse primeiro ciclo, essa criança está pronta para o mercado de trabalho? Tenho quase certeza que maioria das pessoas balançou negativamente a cabeça ao término da leitura de minha pergunta. Então, é importante pagar mais 04 ou 05 anos de faculdade para que ela estude e, de fato, tenha condições de se tornar um profissional “qualificado” para o mercado.

Voltemos novamente às contas e manteremos o custo da mensalidade no mesmo patamar de R$ 500 só para simplificar nossa matemática.

Custeio do Ensino Superior = 04 anos x R$ 6.000 = R$ 24.000

Qual o custo desprendido pelos pais para formação dessa criança que se transformou em um adulto com canudo na mão? R$ 102.000. Lembrando que desconsiderei a elevação dos custos e a inflação do período, notamos que mesmo assim é um dinheiro considerado.

Sintetizando meu exemplo, foram 17 anos de estudos na formação de um adulto com 22 anos em busca de uma oportunidade de emprego.

Ao chegar à primeira entrevista, o garoto já pede como salário inicial o valor de R$ 3.000, pois ele quer manter o mesmo padrão de vida dedicado pelos pais ao longo de sua vida estudantil.

Como o empresário sabe que o salário é pago pelo equilíbrio entre produtividade marginal desenvolvida pelo trabalhador com a taxa marginal de substituição técnica, entre outras palavras, o quanto o empresário gasta para manter um trabalhador eficiente em relação a oferta disponível no mercado. Quanto maior for a taxa, maior é o salário médio desse trabalhador em relação a economia como um todo, pois ele é pago pelo que produz.

Ao se deparar com isso, o empresário está disposto a pagá-lo inicialmente o equivalente a R$ 1.000 (três vezes menos do que ele está disposto a receber) devido a sua falta de experiência e o tempo o levará ao salário de início desejado. Logo, como não há acordo, o empresário tem problemas para fechar uma lacuna em seus negócios e o estudante encontra-se desempregado.

Quando este último abre o jornal e vê uma manchete dizendo que o Instituto Nacional das Artes Insanas da Mídia Internacional em Detrimento do Mercado Nacional na Conjuntura Atual abre uma vaga para Analista de Reforma Institucional do Código dos Músicos Fora da Arte, para qualquer nível superior, com um salário inicial de R$ 3.000, o estudante não pensa duas vezes: vou fazer este concurso!

Logo, a economia desviou uma pessoa que se tornaria produtiva para a iniciativa privada em detrimento de um cargo que não faz o menor sentido, tudo pelo salário.

O problema do jovem estudante é um problema para todos nós! Sem a disposição dele para o mercado privado, os empresários aumentam o salário e a carga de trabalho dos que estão bem empregados (executivos) que logram uma vida mais estável (vide salários dos executivos brasileiros) e rebaixam o salário de entrada, já que o nível educacional não está sendo direcionado para o sucesso do mercado privado e sim desviado para o setor público da economia.

Agora me expliquem uma coisa. Por que nossos jovens têm medo de fazerem carreira no mercado privado? Por que o governo distorce tanto a economia de mercado? Por que existem muitos para defender este tipo de política que afundará em longo prazo a economia como um todo (vide o caso da Grécia)? São coisas que não entendo. Alguém pode me explicar?

5 comentários:

Anônimo disse...

Sérgio, não vejo problema de o serviço público remunerar bem seus funcionários desde que haja uma ligação direta entre o salário e as atribuições do cargo (responsalibidades, natureza do cargo em si, etc.). O que eu acho errado são os excessos cometidos em relação a isso. Vou dar um exemplo no sentido contrário ao seu: qual médico se sente motivado em fazer um concurso para a secretária de saúde do DF para ganhar pouco mais de 3 mil reais, sendo que se ele abrir um consultório particular, dependendo da especialidade, ele fatura isso em um dia? Eu sendo um médico não sentiria motivação financeira nenhuma em trabalhar na rede pública (a não ser que possua outras motivações). Eu não acho certo um servidor de nivel médio do Senado ganhar um salário de 13 mil reais com nível médio. Os excessos são o problema. Eu já fui um sonhador, que acreditei em papo de professor de cursinho, que dizia que quando eu entrasse na UnB as empresas iriam me buscar lá para trabalhar, que o diploma de uma universidade federal tinha um peso enorme para as grandes empresas e etc. Confesso que fui iludido com esse discurso. Quando cheguei no 7º semestre do meu curso eu percebi a dura realidade: estou pra me formar e não tenho perspectiva nenhuma de conseguir emprego na minha área na iniciativa privada (sendo bacharel eu sou proibido de lecionar), a não ser que tivesse um QI muito forte pra entrar em alguma empresa (já fizeram estudos que um QI vale muito mais que um currículo na maioria das seleções de iniciativa privada). Também não tinha perspectiva em trabalhar na minha área no serviço público. Aí chegou a hora de ponderar as alternativas: correr atrás de algum emprego na iniciativa privada com esperanças remotas de conseguir atuar na minha área de formação (já que não possuo algum QI grande) ou estudar pra um concurso e conseguir um salário bom, mesmo atuando fora da minha formação. Consegui ser aceito no mestrado na UnB e mesmo assim continuei estudando para concursos pois ainda assim não via um futuro muito promissor para um matemático no Brasil.

Anônimo disse...

(continuando) Consegui ser aprovado em um cargo público de nível médio e larguei um mestrado para trabalhar como técnico admistrativo em uma Agência Reguladora. Alguns colegas meus continuaram e concluíram o mestrado e não lhe restavam muitas alternativas no mercado de trabalho e foram dar aula em uma faculdade particular. Quando um colega meu ia reprovar uma turma quase toda porque ninguém sabia o básico de matemática (quanto mais Cálculo I) ele foi demitido porque não poderia reprovar esse tanto de gente. Eu lhe faço a pergunta: é esse o reconhecimento da iniciativa privada? É essa valorização que dão a um profissional que gastou no mínimo 6 anos estudando uma área específica (4 de graduação e mais anos de mestrado)? A realidade que eu conheço da iniciativa privada não é essa maravilha toda, como não é o serviço público mas aqui pelo menos eu possuo certa liberdade para fazer o que eu considero certo, dentro dos limites da lei e não virar refém de empresários gananciosos, tendo que se sujeitar a muitas coisas pra garantir seu salário no fim do mês. Nunca fui generalista e nunca serei, por isso sei que existem empresas sérias, que valorizam seus funcionários, remuneram bem, possuem planos de carreiras excelentes, como também possuem cargos no serviço público assim. O Brasil não vai virar uma Grécia por causa de gasto com funcionalismo (se virar será por um conjunto de fatores e não somente um), haja vista que a LRF estipula um teto de gasto com pessoal, pois comprovadamente é onde o governo mais gasta para manter a máquina pública. Como já disse uma vez, não existe anjos e demônios no mundo capitalista, então nenhum lado é totalmente ruim ou totalmente bom, é necessário ter bom senso e analisar bem. Enquanto não mudar a cabeça de alguns empresários gananciosos eu continuo preferindo ser servidor público e ter minha liberdade de fazer o que eu acho certo, sempre dentro dos limites que a lei me impõe, sem ter medo de fazer o que é certo em um dia e ter que comprar um jornal no outro dia pra procurar um novo emprego...

Um abraço meu amigo,

Leonardo.

Anônimo disse...

Concordo contigo Léo, mas dependendo da área que tu escolha como profissão, teu futuro profissional será brilhante, mas claro que a longo prazo. Mercado privado a curto prazo, é decepcionante, além de ser um mercado de risco, mas ao mesmo tempo lhe abre um leque maior de possibilidades e que por consequência aumentam-se as probabilidades de erros e acertos, digo mais erros do que acertos, é um mercado que você tem que ser político, arisco e saber dar o tiro certo na hora certa, se você perder esta hora e errar o tiro, você estará predestinado ao fracasso e a falência e terá sim que procurar emprego em jornais como você mesmo disse e isso para um profissional é o fundo do poço. Mas porque ele chegou ali?! Por que perdeu o horário e deixou o trem passar. Eu não vou ficar utilizando termos técnicos, para descrever o que o mercado busca ou que o trabalhador almeja. Eu apenas simplifico que nós trabalhadores queremos uma vida estável que nos gere conforto e bem estar, que possamos comprar aquilo que desejamos (não tudo) porque penso que ao atingirmos a maximização de nosso bem estar acho que perdemos o foco de alguma coisa. E enfim como podemos obter tal conforto e bem estar? Estudando? Começando a trabalhar cedo? E porque não sonhando? Enfim estas são resposta que movem as perguntas, mas que muitas das vezes nos frustram como, por exemplo: Escolhemos estudar, passamos 17, 18 sei lá 19 anos de nossas vidas estudando, aí quando vamos para o mercado de trabalho, não temos experiências suficiente para o mesmo e querem nos pagar R$ 1.500,00 que desse montante são descontados INSS, FGTS, almoço, transportes, sindicatos, cada um na sua devida proporção isto se não tiver mais desconto..rss e sobra um liquido de aproximadamente R$ 1.200, poxa isso é um banho de água fria para qualquer um, fora o fato de que se você não fizer a “vontade” do empregador corre o risco de ser mandado embora, mas aí entra o fato que falei anteriormente da hora certa e lugar certo, se você agarrar esta oportunidade, aí você inverte o jogo virando o caçador e não a caça. Mas como falei anteriormente (desculpe a redundância) é um mercado de risco, um risco que nem todos estão dispostos a correr preferem estudar para ter um diploma seja ele qual for o curso, depois disso passar anos e anos se preparando para um concurso e trabalhar naquilo que talvez nem foi o que tinha pensado, pelo simples fato da estabilidade e não ter com o que se preocupar em fazer ou deixar de fazer para agradar “outrém” aí vem o que o Sérgio disse, esta força de trabalho que poderia estar exercendo sua “função” seja ela qual for, no mercador privado ou público é direcionada para outro setor da economia, (no qual ele está coberto de razão) mas como tudo nessa meleca de vida nos deparamos com o maldito “trade off” fazemos escolhas que nos convém e que nos dê conforto, e sendo assim não vejo mal algum em escolhas que X ou Y fizeram, uns dão sorte outros não...uns dão certo outros não...mas o fato é que nesse mundo de “trade off” sempre haverá pessoas dispostas a arriscar MENOS.

Abraço

Rodrigo

Anônimo disse...

Sim, concordo em tudo com você Rodrigo. Sempre tive na cabeça que para o profissional bom nunca falta espaço no mercado, por mais saturado que uma área esteja. Eu não conheço ninguém que falou na infância que o sonho dele seria ser servidor público um dia. Acho que todos nós almejamos uma carreira brilhante, fruto de nosso esforço e determinação. Mas como você bem disse, o início na iniciativa privada é frustrante e, dependendo do emprego e de suas necessidades, você se vê obrigado a se sujeitar a certas situações que, por opção, você jamais se sujeitaria. Mas você tem contas pra pagar, família pra sustentar e etc. Não acho errado quem se sujeite a isso, pois cada um sabe da sua necessidade e não cabe a mim julgar quem proceda dessa forma, aceitando coisas que sabe que não é correto. O Sérgio está certo quando diz que tem muita mão de obra qualificada deslocada de sua função, trabalhando em serviços que jamais pensou em trabalhar mas ai que entra o trade off. No meu caso, eu precisei de um emprego, emprego a curto prazo e dificilmente conseguiria fácil na iniciativa privada, pois me formei velho para o mercado de trabalho e sem experiência me nenhum emprego anteriror e o serviço público me ofereceu essa oportunidade, pois não exigia experiência e nem se quer formação superior. Eu poderia estar sendo aproveitado na minha área no serviço público mas, também aqui, como na iniciativa privada, minhas opções são poucas. Aí vem novamente o trade off: se estou fora da minha formação, que eu trabalhe pelo menos em um emprego que pague bem e com certa segurança, abrindo mão da iniciativa privada, com possibidades de crescer a longo prazo.

Um abraço,

Leonardo.

Anônimo disse...

Perfeito...

Resumindo se correr o bicho pega e se ficar o bicho come...rs