27/10/2010, duas horas da manhã. Em uma noite fria, não esperava pelo pior. Ao atender o telefonema, era o número de minha mãe. Do outro lado da linha minha irmã falava: “Sérgio, nosso pai está passando mal e minha mãe pediu para você vir correndo para cá.” Desliguei e corri para o hospital para escrever uma nova história em minha vida. A despedida desse mundo de meu PAI!
Quando aprendemos história na escola, aprendemos as datas especiais de fatos ocorridos e dos heróis brasileiros e estrangeiros. Este líder merece um capítulo todo especial em qualquer livro de história moderna e do exemplo de pai em um mundo tão escasso de família.
José Fernandes de Farias, conhecido como Farias, foi o construtor de um legado em minha vida. Desde os pedais da bicicleta, para entender o sentido de equilíbrio, às quedas ao andar sem os pedais. A procura de vento ao soltar uma pipa até a viagem dela em pleno azul do céu em uma tarde de domingo com sol olhando o lago Paranoá pela ótica do clube Motonáutica. Meu pai esteve presente em todos os momentos.
Cresci conhecendo os trabalhos de meu pai. Desde o mundo político, a convivência social, religiosa e familiar. Em todos, ele sempre teve tempo. Para ele, não existiam 24 horas em um dia. Quando existisse alguém que demandasse o seu esforço, ele absorvia e garantia a solução para o problema alheio. Um líder nunca desiste de seus objetivos.
Foi assim que ele se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT), fundou o Sindicato dos Servidores Públicos Federais (SINDSEP) e lutou, com coragem e sem medo, contra o governo do Presidente Collor pelos funcionários da CIBRAZEM, hoje CONAB.
Vendo a multidão que se alastrava em romaria ao túmulo de meu pai, vi o tão grande era o seu legado e quanto ele gerou esperanças no coração de muitos homens e mulheres de que ele teve o orgulho e a grandeza de conhecer. Vi o quanto maravilhoso é fazer o bem!
Meu pai se orgulhou de mim a me ver casar com a minha Cleozinha. Desde então ele percebeu que eu tinha me tornado um adulto, cumpridor de minhas obrigações, pois até onde eu demandei de seus préstimos, não existia chuva ou sol que lhe fizesse desistir do seu auxílio para ver o sorriso estampado em meu rosto e a crença que eu estava realizando o melhor para mim. É que ele não se continha em saber que o melhor que eu tinha para ele era tão pouco e para mim era o presente mais que maravilhoso que Deus tinha me dado, a oportunidade de ser seu filho.
Tão fácil entender o amor que ele tinha por mim, mas difícil descrever em palavras os gestos maravilhosos vividos entre nós. Busco no dicionário as palavras e os adjetivos mais lindos para enriquecer nosso amor, mas olho seu sorriso em uma foto de arquivo e vejo que ele gostava da simplicidade. Um beijo e/ou uma expressão do tipo “Eu te amo”, eram o que mais importavam.
Hoje a saudade me consumiu ao ver meu afilhado, José Gilberto, filho primogênito de minha irmã, dizendo-me que estava com sono e queria dormir ao chegar da escola. Ele comeu com uma tristeza enorme e tão singelo foi seu olhar ao dizer que estava com dor de barriga e que eu deveria lhe comprar um remédio que nem seu avô faria se estivesse entre nós. Na verdade ele está com saudade e não sabe externalizar isso, pois ele tem apenas cinco anos e era intenso o convívio entre os dois.
Para completar o dia, ele me observa chorando e diz: “Padrinho, qual a nuvem que o vovô está?”. Não contive o choro e, após escutar minha explicação, ele me perguntou: “Por que você está falando desse jeito?”. Eu falava com a voz embargada pela explicação que acabará de lhe dar. Mas ele disse com a sabedoria de uma criança: “Não chora que ele está com papai do céu”.
Domingo meu pai votaria na Dilma para Presidente. Estou chateado com os rumos que o PT tomou e vivi algumas coisas que me deixaram chateado com o partido, mas não posso ser egoísta nessas horas e pensar apenas em mim. Ele era o meu pai e lutou a vida toda pelos os 80% de aprovação recorde do melhor governo da história brasileira e que estava tão contente ao saber que as urnas refletirão isso no próximo domingo. Diante disso, ao lembrar os porões da ditadura militar que meu pai ficou ao ser capturado pelo DOPS e ser torturado como se fosse um saco de entulho, passando pelas greves contra as extinções de empresas públicas no governo Collor, as privatizações do governo FHC até chegar à eleição de Lula, que ele lutou mais da metade de sua vida, darei o voto à Dilma Rousseff, pois seria o seu voto e a sua fé.
Conversando com um primo meu no velório, vi a importância desses oito anos do governo Lula e a defesa que meu pai fez quando ele o questionou sobre os escândalos de corrupção que existiram e meu pai respondeu: “Luiz, o nordestino hoje come maçã”. Isso desmontou qualquer argumento que meu primo poderia apresentar em seguida. Ele se deu por vencido e convencido que esses oitos anos existiram avanços.
Sem delongas, despeço-me de meu pai nessa vida e com a garantia eterna de sua presença na história brasileira. Defenderei com pulsos firmes a sua trajetória de vida, criando a sua neta não conhecida Lívia Fernandes Farias de Sousa, que se encontra no ventre de minha mulher e ganhará o mundo em janeiro próximo. Prometo ser fiel aos seus passos e com o perdão se algum dia eu deixei de ser a diferença que ele quis que eu fosse nesse mundo.
Agradeço as mensagens de apoio e saudações. Perdi o leitor mais fiel de meu blog. Este mês estou de luto e volto a escrever após a missa de sétimo dia que ser realizará no próximo dia dois (dia de finados). Meu pai faria 64 anos na segunda-feira, mas quis Deus levá-lo antes e encontrar o seu grande amigo Renato, que faleceu um mês antes dele. Com certeza eles formarão uma grande equipe no céu e defenderão novos anjos que aparecerem na nova vida que levarão.
Obrigado Deus pelo presente dado que foi o meu pai e obrigado aos amigos pelo carinho. Até mês que vem com Dilma Presidente e Agnelo Governador, para o Brasil Seguir Mudando.