domingo, 3 de junho de 2012

O problema da obrigatoriedade do voto

Você quer votar? Tem um candidato definido? Se você respondeu a estas duas perguntas sem pestanejar, parabéns! Você tem consciência de seu voto e, mesmo que ele não seja obrigatório, você vai abrir um espaço em sua agenda para depositá-lo na urna. Agora, meu amigo leitor que respondeu não a uma das perguntas, existe um grande problema na lei que obriga o voto. A obrigação do voto gera mais desvios do que solução para o regime democrático.

O brasileiro passa quarenta horas semanais em uma atividade laboral, fora os estudos, que estão, na maioria dos casos, no contra fluxo do horário tido comercial. Quando chega o final de semana, a maioria dos brasileiros optam por ficar em casa com a família, sair com os amigos no sábado e curar a ressaca no domingo, dentre outras atividades que não foram elencadas.

Em todas as opções existem um trade off (a escolha de um renuncia o outro) entre sair para casa de um familiar ou ficar em casa, por exemplo.

Toda obrigatoriedade tira da pessoa o poder de decisão. É assim que as ditaduras funcionam. O seu poder de escolha não existe e isto impede que você planeje seu futuro de uma forma diferente e aprenda as respostas dos acertos e dos erros de suas escolhas.

A obrigação deriva da má qualidade de nossos políticos, que não buscam merecer o voto de seus eleitores trabalhando em projetos que envolvam e criam consciência nos eleitores para eles optarem por ir à zona eleitoral e depositar seu voto ao renunciar o domingo de sol para ir ao clube com a família.

A obrigatoriedade faz com que os recursos privados sejam canalizados aos partidos políticos com reais condições de vencerem o pleito, já que os eleitores são envolvidos no processo e, em contrapartida, imputam aos políticos projetos de curto prazo para que os eleitores tenham a mínima sensação de melhoria em seu bem-estar.

Esses recursos, devido a este mesmo espaço de tempo mínimo do mandato, elevam a propensão da corrupção, já que o custo de oportunidade em se ter uma melhora na lucratividade nos negócios das empresas que bancaram a campanha do administrador eleito são maiores do que a punição dos envolvidos em escândalos devido às fragilidades das leis.

Para o eleitor, que teve a obrigação de votar, ele deve acompanhar as ações do candidato eleito. Mas, devido ao pouco tempo que sobra entre a sua vida profissional e o seu lazer, o que resta ao eleitor é ser procurado daqui a quatro anos novamente para depositar na urna o seu voto.

Essa obrigação gera projetos mal feitos, leis sem sentido e muitos recursos públicos desperdiçados ou roubados dos cidadãos e sendo canalizados diretamente para a conta dos corruptos e corruptores.

A melhoria na qualidade de nossos políticos e de seus projetos só existirá com a liberação do voto como escolha do eleitor. Ele tem que ter o poder de decisão, entre sair de sua casa e ir votar no candidato de sua preferência ou sair com os amigos para um churrasco de domingo.

O bom exemplo da banalização de nosso processo eleitoral aconteceu na última quinta-feira no programa do Ratinho quando o ex-presidente Lula pediu votos ao candidato Fernando Haddad. Esse estado de coisa só existe pela obrigatoriedade do voto. Os políticos se sentem o dono do processo e o eleitor o rebanho sendo levado para o curral. Ou buscamos nossos direitos a liberdade ou continuaremos sendo descritos em cada palavra da música “Vida de gado” do grande Zé Ramalho.

Um comentário:

Marcos Paulo disse...

Ótimo post!

Vale lembrar, para as próximas eleições, a quem não conseguir escolher um candidato digno de confiança, que vote nulo!!! Pois se 50% dos eleitores assim o fizerem, nenhum dos candidatos poderão concorrer novamente; e nesse novo cenário, creio eu, aparecerão pessoas mais qualificadas.

Seria no mínimo interessante.

Marcos