sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O que é algo improdutivo?

Muitas pessoas questionam uma economia de mercado porque ela obedece às regras que são geradas pelo próprio mercado, portanto, regras que surgem naturalmente das negociações entre os agentes econômicos.

Todo mercado privado é produtivo, já que a lógica da existência de um mercado é a relação de trocas entre agentes que ofertam e demandam entre si bens que se tornam úteis pelas necessidades. Vou citar um exemplo: o padeiro faz pão, não porque ele gosta de mim, mas porque eu darei para o dono da padaria o meu dinheiro e ele repassará ao padeiro a parte que lhe deve de sua produtividade na fabricação do pão. Mas como foi que eu consegui dinheiro para comprar pão? Com o meu trabalho, ao produzir algo para alguém que demandou os meus serviços e assim sucessivamente.

Existe algo improdutivo? Sim. No Brasil vemos aos montes e todos alocados no setor público ou no meio sindical.

Antes que eu seja condenado, não estou querendo dizer que um servidor A ou B é improdutivo, mas sim que o serviço que eles operam tem natureza improdutiva. Como assim? O trabalho surge de uma demanda privada. Como no exemplo que eu dei acima, o padeiro é uma profissional que surge para atender a demanda de outros trabalhadores que pretendem comer um pão quentinho no café da manhã para trabalhar ao passo que uma parte do serviço público não tem uma demanda privada.

Percebe-se da explicação acima que o setor privado gera demandas e ofertas econômicas pelas necessidades dos agentes em consumir um bem que outros com talento fabricaram.

Peguemos um exemplo de um agente administrativo de um ministério. Posso medir a produção dele pela quantidade de memorandos que ele digita em um dia, mas ele não atende uma necessidade do mercado e sim as normas internas de um governo. Ou seja, cidadãos comuns pagam impostos para que a vida deles fique um pouco mais complicada, já que o servidor tem que justificar o seu salário produzindo mais burocracia para o meio privado da economia.

Peguemos agora outro exemplo. Imagine um engenheiro mecânico que produz freezer para vender aos supermercados que armazenam congelados para os seus clientes. Esse engenheiro recebe X reais por venda de um freezer e tem um custo de 0,6X com a fabricação de cada um. Se o governo lhe impuser um imposto de 20% sobre o seu faturamento e ele não repassar aos seus clientes, ele reduzirá sua poupança pela metade, já que antes ele recebia 0,4X e agora passará a receber 0,2X, pois seus custos aumentaram para 0,8X. Se o engenheiro tinha em mente expandir os seus negócios, ou o governo adiou esse tempo, ou ele perderá o incentivo e finalizará seu empreendimento.

Daí as pessoas podem se justificar: mas o servidor público também retornará esse valor ao mercado na forma de consumo… Sim, mas não será canalizado para o empreendimento do engenheiro e novos freezers faltarão no mercado fazendo com que o preço do frango, que é sensível aos custos operacionais, aumente e o servidor público reclame do governo porque o custo de vida dele está aumentando, devido à inflação e ao salário nominal fixo que provoca uma queda no salário real.

Partindo dessa premissa, eu entro na segunda relação de improdutividade: os sindicatos. Eles ajudam a derrubar o que está tendendo a queda. Quando o servidor faz greve reivindicando salários reais, justificada pela defasagem provocada pela inflação, automaticamente ele sinaliza ao governo aumentar sua receita. Como todo mundo sabe, a receita do governo são os tributos, logo mais encaixe e fiscalização serão provocados contra o setor privado da economia, reduzindo mais ainda a poupança privada, desestimulando a economia produtiva e direcionando todos os recursos para o setor improdutivo (sindicalistas e servidores públicos).

Infelizmente nós brasileiros estamos partindo para este círculo. Um caminho complexo e, dependendo do enredo, de finais trágicos. Que o diga a Grécia que não entendeu que toda escolha existe uma renúncia e o custo dessa renúncia pode ser mínimo ou máximo, dependendo do tamanho das vidas que estão ancoradas no jogo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Grande Sérgio, faz tempo que não comentava seu blog, apesar de sempre acompanhar seus posts. Lembrando das nossas calorosas e produtivas discussões sobre os mais variados temas, vamos iniciar um novo debate produtivo agora. Não encarao o setor privado como algo absolutamente produtivo, pelo contrário, provas de ineficiência e má qualidade dos serviços eu tenho aos montes para dar exemplos, apesar de haver concorrência no mercado. Posso citar, por exemplo, o setor de telefonia móvel. Não vejo nenhuma dessas empresas que nos ofertam seus produtos como excelência e primor de qualidade nos seus serviços e produtos. Ao contrário, é um dos setores que mais tem reclamações no Procon. Adianta você trocar de operadora? Os serviços prestados não se diferenciam muitos uns dos outros, então de que contribuiu a concorrência nesse sentido? O fato da telefonia sair das mãos do Estado para a inciativa privada eu considero que foi algo positivo, no sentido de aumentar o acesso da população aos serviços de telefonia mas, não necessariamente, virou sinônimo de produtividade. Já a questão serviço público é um pouco mais complexa de se debater, já que teríamos que fazer um estudo desde o início dos primeiros serviços públicos no Brasil, que começou com a vinda da corte real portuguesa para o Brasil, até os dias atuais, passando antes pela criação do DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público) no governo Vargas, que marca o início da reforma burocrática no serviço público do Brasil para entendermos porque hoje está como está. Independente disso não vejo o meu trabalho e de meus colegas aqui como improdutivos, pelo contrário, nós temos avaliações pediódicas de desempenho, em cima da produtividade do orgão público e da produtividade individual de cada servidor. Se o desempenho foi abaixo da meta, nossa gratificação será diminuída. Antes que alguém diga que na prática isso não funciona e que todos levam nota máxima, já lhes adianto que não é assim. A cobrança por resultados aqui é tão grande quanto em uma empresa privada, com a diferença que nós temos estabilidade. Teria muita coisa para debater aqui sobre serviço público mas o espaço é curto e delongaria um texto muito grande. Em relação ao serviço em um ministério, não sei como é mensurado a produtividade de um servidor, já que é um orgão da administração direta e o foco do trabalho é diferente de uma agência reguladora. Mas que o setor público em geral é improdutivo não procede apesar de ter vários setores improdutivos sim. Em relação a atividade sindical e pedidos de aumentos, não necessariamente aumentar o salário do servidor significa aumentar ou criar impostos. O problema é saber onde está nosso dinheiro arrecadado com impostos, uma vez que a corrupção suga grande parte dos recursos desse país. Dinheiro nesse país nunca faltou, o que falta é acabar com essa sangria de recursos públicos que vão para os bolsos de políticos corruptos. Porque não se pune as empresas privadas que participam de vários esquemas de corrupção? São tão culpadas quanto os próprios políticos. Não existe anjos e demônios no mundo capitalista. Tanto setor público quanto privado não são salvadores da pátria e nem causa de atraso do país, a questão é muito mais complexa do que se imagina. Um abraço meu amigo e parabéns pelo seu blog. Já estava com saudade dos nossos debates rs.

Leonardo.

Anônimo disse...

Grande Sérgio, faz tempo que não comentava seu blog, apesar de sempre acompanhar seus posts. Lembrando das nossas calorosas e produtivas discussões sobre os mais variados temas, vamos iniciar um novo debate produtivo agora. Não encarao o setor privado como algo absolutamente produtivo, pelo contrário, provas de ineficiência e má qualidade dos serviços eu tenho aos montes para dar exemplos, apesar de haver concorrência no mercado. Posso citar, por exemplo, o setor de telefonia móvel. Não vejo nenhuma dessas empresas que nos ofertam seus produtos como excelência e primor de qualidade nos seus serviços e produtos. Ao contrário, é um dos setores que mais tem reclamações no Procon. Adianta você trocar de operadora? Os serviços prestados não se diferenciam muitos uns dos outros, então de que contribuiu a concorrência nesse sentido? O fato da telefonia sair das mãos do Estado para a inciativa privada eu considero que foi algo positivo, no sentido de aumentar o acesso da população aos serviços de telefonia mas, não necessariamente, virou sinônimo de produtividade. Já a questão serviço público é um pouco mais complexa de se debater, já que teríamos que fazer um estudo desde o início dos primeiros serviços públicos no Brasil, que começou com a vinda da corte real portuguesa para o Brasil, até os dias atuais, passando antes pela criação do DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público) no governo Vargas, que marca o início da reforma burocrática no serviço público do Brasil para entendermos porque hoje está como está. Independente disso não vejo o meu trabalho e de meus colegas aqui como improdutivos, pelo contrário, nós temos avaliações pediódicas de desempenho, em cima da produtividade do orgão público e da produtividade individual de cada servidor. Se o desempenho foi abaixo da meta, nossa gratificação será diminuída. Antes que alguém diga que na prática isso não funciona e que todos levam nota máxima, já lhes adianto que não é assim. A cobrança por resultados aqui é tão grande quanto em uma empresa privada, com a diferença que nós temos estabilidade. Teria muita coisa para debater aqui sobre serviço público mas o espaço é curto e delongaria um texto muito grande. Em relação ao serviço em um ministério, não sei como é mensurado a produtividade de um servidor, já que é um orgão da administração direta e o foco do trabalho é diferente de uma agência reguladora. Mas que o setor público em geral é improdutivo não procede apesar de ter vários setores improdutivos sim. Em relação a atividade sindical e pedidos de aumentos, não necessariamente aumentar o salário do servidor significa aumentar ou criar impostos. O problema é saber onde está nosso dinheiro arrecadado com impostos, uma vez que a corrupção suga grande parte dos recursos desse país. Dinheiro nesse país nunca faltou, o que falta é acabar com essa sangria de recursos públicos que vão para os bolsos de políticos corruptos. Porque não se pune as empresas privadas que participam de vários esquemas de corrupção? São tão culpadas quanto os próprios políticos. Não existe anjos e demônios no mundo capitalista. Tanto setor público quanto privado não são salvadores da pátria e nem causa de atraso do país, a questão é muito mais complexa do que se imagina. Um abraço meu amigo e parabéns pelo seu blog. Já estava com saudade dos nossos debates rs.

Leonardo.

Blog da Lívia Farias disse...

Grande Leo, que bom tê-lo aqui novamente.
Acho que não fui bem compreendido quando expliquei a minha visão de produtividade no setor privado e público.
Primeiro quero deixar claro que não estou falando aqui que ser servidor público é um reconhecimento de pessoa improdutiva. Muito pelo contrário, conheço muitos servidores públicos trabalhadores, você é um exemplo, e minha família também é constituída de funcionários públicos.
A minha colocação sobre improdutividade no setor público é na nascente natural de alguns serviços.
Voltando ao meu exemplo, veja o caso do padeiro. Ele existe porque os agentes demandam pães para tomar um café da manhã. Desta forma, surge a necessidade da economia criar os meios para isso que é na formação de trabalhadores qualificados para a profissão de padeiro, pois existe uma demanda natural para o negócio que ele oferta.
Agora darei um exemplo de um serviço público improdutivo. A função de indigenista, por exemplo, é totalmente improdutiva. Para que eu preciso de um indigenista? Ou seja, não tem demanda privada para essa função e eu pago impostos para manter esses cargos no setor público.
Minha opinião sobre os índios é que eles são seres humanos como a gente, que podem trabalhar e produzir riqueza com o conhecimento deles, como qualquer brasileiro, e não precisa de um procurador para tratá-los como bicho.
Eu demando serviços públicos naquilo que o setor privado gera externalidades negativas, como por exemplo: segurança pública. Se eu contrato um segurança privado ele vai defender apenas a minha propriedade e pode cometer excessos ao ponto que um policial defende um ambiente coletivo. Outro exemplo: justiça.
O setor privado demanda serviços públicos, mas existem muitos improdutivos. Quando eu tratei de um cargo de agente administrativo em um ministério, eu quis dizer que não existe uma demanda privada pelo serviço que essa função opera, tanto que muitos órgãos terceirizam esse serviço.
Falando um pouco da ineficiência privada, cujo exemplo citado foi às telefonias no Brasil, a culpa disso é do governo, que preservar um oligopólio absurdo. Em um mercado competitivo, onde os consumidores é quem define as regras, com certeza o serviço prestado era de melhor qualidade. As telefonias no Brasil foram transferidas do setor público para os acionistas políticos brasileiros. Modelo tupiniquim gerado em pleno coração do Brasil (Congresso Nacional), sem uma lógica mercadológica, gera prejuízos sociais que você mesmo citou.
São esses meus pontos de vista. Fico no aguardo agora de seu aparte.

Abraço!
Sérgio Ricardo

Anônimo disse...

Serjão, concordo com você que há muitos setores no serviço público que são extremamente improdutivos que não justificam a razão de existir. Essa é ainda uma mentalidade antiga de alguns servidores e gestores públicos que, uma vez no serviço público, estão no paraíso, não precisam trabalhar, só esperar o mês passar para receber seus salários, não revertendo o nosso dinheiro arrecadado com tributos em serviços de qualidade ou que justifiquem a razão de existir para a população. Mas como eu lhe disse no post anterior, a questão do serviço público aqui tem raízes históricas. Nós, ao longo do tempo, só tentamos copiar os modelos de administração pública dos países desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos e a Inglaterra, sem considerar as peculariedades do nosso sistema e fazer os devidos ajustes dos modelos adaptando-os à nossa realidade. Para se ter uma idéia, a dita administração gerencial com a política do Estado mínino, começou a ser implementada nos Estados Unidos e na Inglaterra no início dos anos 80 como uma resposta à crise da administração burocrática, que foi colocada em xeque com a crise do petróleo nos anos 70, pois os gorvenos não eram capazes de dar uma resposta eficiente aos problemas globais, pois a burocracia se preocupava muito no controle dos procedimentos e esquecendo do foco nos resultados, gerando uma crise de governança. A população não via retorno dos tributos cobrados em serviços de qualidade. O nosso governo militar, através do Decreto-Lei nº 200, tentou dar uma eficiência ao serviço público, focando seus esforços na Administração Indireta, descentralizando os serviços e a criação do Programa Nacional de Desburocratização. Mas faltaram alguns elementos vitais para que realmente fosse implantada uma administração gerencial no Brasil. Posso citar, por exemplo, que não havia o uso do planejamento estratégico em cada organização. A administração gerencial começou somente a ser implementada, na minha opinião, no governo FHC, através do Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado, ou seja, mais de 15 anos depois de terem sido implementadas nos Estados Unidos e Inglaterra e isso reflete nos dias atuais. Ainda estamos muito atrás nesse sentido em relação aos países mais desenvolvidos mas acredito que a gente ainda chegue lá. Um abraço meu amigo.

Leonardo.

Blog da Lívia Farias disse...

Amigão,
Essas reformas foram conduzidas por Margareth Thatcher e Ronald Reagan, que foram inspirados nas doutrinas da escola austríaca de economia.
Percebo pelo seu comentário que é necessário uma reforma no estado, pois os serviços não estão bem alocados.
Estamos alinhados em alguns pensamentos.
É sempre um prazer tê-lo aqui!

Abraço!
Sérgio Ricardo