terça-feira, 22 de março de 2011

Visita do Obama e o desenvolvimento nacional

O cálculo do produto nacional bruto, pelo lado da economia real, revela contabilmente as contas interna e externa. Pela economia interna temos a absorção privada e governamental e pela economia externa a absorção se dá por intermédio do déficit em transações correntes, conhecido como poupança externa.

Desta forma, como poupança é o capital gerado pelo setor privado para realizar os investimentos em formação bruta de capital fixo e os tributos é a receita governamental para investir em bens públicos que são não rivais e não excludentes do tipo obra de saneamento ou construção de estradas (há controvérsias nesta última), a absorção interna dependerá e muito dos esforços dos agentes privados e do governo. Como os agentes respondem a incentivos, um bom incentivo do governo é reduzir os impostos e estimular a geração de poupança privada para ampliar a concorrência e elevar o nível do produto econômico. Outra forma de incentivo estatal é melhorar os serviços públicos com obras de investimento, melhoria nos canais distributivos como portos, aeroportos e estradas para agilizar o escoamento da produção. Este princípio eleva a produtividade dos agentes e incentiva o mercado interno, gerando a formação de demandas por bens privado e público.

Agora que vem a questão. Se nossa poupança privada bruta está no patamar dos 20% do PIB, segundo o IBGE, a carga tributária real (descontando a inflação oficial do ano de 2010, que ficou em 5,90% de uma carga tributária nominal de 35,04%) foi de 29,14% e o governo engorda a cada ano a dívida bruta pública brasileira, o que fazer para elevar o desenvolvimento nacional? Poupança externa.

O saldo deficitário em transações correntes mostra que o Brasil depende de poupança externa para elevar seu nível de investimento, seja para políticas públicas educacionais, de saúde, saneamento, até para obras de investimento nos projetos da copa e olimpíadas, os dois maiores eventos esportivos do mundo.

Não sou contra ampliarmos nosso parque industrial ou nosso nível de consumo com poupança externa. Por isso sou favorável a visita de Barack Obama ao Brasil. Precisamos abrir espaço para investimento externo americano em nossa economia local. Só melhoramos nossa produtividade se tivermos uma economia livre para circulação de produtos na economia interna e externa, exportando e importando máquinas que elevam a produtividade competitiva dos agentes interno privados. Os americanos têm uma vantagem comparativa em relação aos brasileiros devido ao avançado nível tecnológico em sua economia doméstica. Desta forma importaremos mais manufaturas e exportaremos mais bens primários.

Não sejamos contra a tecnologia que aportará no Brasil, pois o setor que mais crescerá é que gera os maiores níveis de emprego em escala, ou seja, o de serviços, que é justamente a maior demanda pública e privada dos agentes que consumirão os jogos da copa e das olimpíadas. Esta é a lógica que calculo para não sairmos tão mal nos projetos gerado para recepcionarmos os dois maiores eventos terrestre.

Vale destacar também que o aumento nas importações dilui os preços na economia doméstica, pois elevará a competitividade dos produtos. Este é o mundo ideal já que muitos me perguntarão por que atualmente isto não ocorre na economia local se temos déficit em transações correntes e alto índice inflacionário? A resposta para este questionamento é: o tamanho do estado e o protecionismo privado de algumas empresas.

O protecionismo provocado pela FIESP, por exemplo, gera desvios de mercado e reduz o bem-estar econômico. A oferta agregada não se eleva e com o aumento da demanda agregada provocada pela forte elevação dos gastos públicos, o reflexo será no aumento significativo dos níveis de preço.

Só teremos os resultados esperados se abrirmos a economia brasileira para os fatores de produção e bens de consumo e o estímulo da competitividade entre os agentes econômicos. A visita do Obama tem que atender os interesses mútuos dos povos com vista à melhoria do bem-estar social dos brasileiros e americanos. Se não fizermos isso, o Brasil continuará sendo a coroa presa nos cabelos da rainha. Brilha, mas não tem voz e não manda em nada.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Precisamos abrir espaço para investimento externo americano em nossa economia local. Só melhoramos nossa produtividade se tivermos uma economia livre para circulação de produtos na economia (...)e importando máquinas que elevam a produtividade competitiva dos agentes interno privados."

Na veia Serjão!!!

Comungo com muito interesse dessa idéia acho até que a redenção da economia brasileira está atrelada fundamentalmente neste ponto.

Abraço!
Marcos Paulo


Ps.: Quando aspiramos por uma economia mais aberta, isso compreende também a livre circulação do insumo que considero mais importante ao desenvolvimento: o CONHECIMENTO. Veja a matéria abaixo.

Nossa Pequena HARVARD Brasileira

http://vejabrasil.abril.com.br/rio-de-janeiro/editorial/m2356/nossa-pequena-harvard

Unknown disse...

Marcão,

Realmente o IMPA é uma referência brasileira ao restante do mundo. Nosso professor Wilfredo tem o doutorado dele naquela instituição, por isso ele é tem um "Q" a mais que maioria.

Se interagirmos em um intercâmbio cultural, cresceremos e desenvolveremos e teremos outro Brasil, aspirante ao verdadeiro modelo de desenvolvimento.

Comungo muito da gestão estratégica do IMPA por isso. Temos que importar e exportar, principalmente, conhecimento. Iremos configurar melhores posições sociais se agirmos nessa comunhão entre os povos.

Abraço e obrigado pela participação.

Sérgio Ricardo