terça-feira, 5 de abril de 2011

Guerra cambial

Este tema foi sugerido pelo meu amigo economista José Guilherme. Não escreverei com a precisão do Alexandre Schwartsman (clique aqui para ler) em artigo publicado no seu blog, mas detalharei um pouco do que eu entendo sobre o assunto.

Muitos devem ter acompanhado pelos jornais a expressão “guerra cambial” tão pronunciada pelo senhor ministro da Fazenda, Guido Mantega, ou por fontes da área econômica do governo. E também devem saber que culpam pela formação desta guerra os Estados Unidos e a China. Compartilho da visão do Alexandre, em seu artigo, que a guerra é forçada por ações do governo chinês do que propriamente dos ianques.

Percebendo o quadro da economia internacional atual, notaremos um câmbio valorizado, em relação ao câmbio de equilíbrio, a nossa moeda nacional, ou seja, o real. A moeda chinesa yuan está desvalorizada em relação ao câmbio de equilíbrio. Detalhei melhor estas informações no gráfico 1 abaixo.


O real está acima do câmbio e a ele é dado a letra E1. Indicaremos a moeda chinesa com a letra E2. O dólar americano é representado pela moeda de equilíbrio, ou seja, que as forças de mercado se encontram em equilíbrio de oferta e demanda em E*.

Desta forma, a quantidade de real em relação ao yuan em posse dos agentes externos da economia desses países é muito maior pelo lado da moeda chinesa do que pelo lado da brasileira. Pelo grande fluxo de yuan espalhado pelo mundo, a economia chinesa tende a elevar suas exportações líquidas, já que a sua oferta é maior que a oferta praticada pela moeda brasileira. Neste primeiro momento a economia chinesa tem se beneficiado com um yuan desvalorizado em relação ao câmbio de equilíbrio.

Pratiquei minha análise em uma economia de mercado. Mas, colocando a realidade das políticas econômicas desses países, notemos que o câmbio chinês é fixo. Desta forma E2 é fixo, enquanto E* e E1 variam com a medida de sua escassez e procura.

Aí que surge a guerra cambial. Se E2 é fixo, ele não se valoriza a medida que aumenta a demanda por yuan. Logo, a economia chinesa adquire uma vantagem comparativa em relação às outras economias, já que o preço de seus produtos é praticado a menor do que é cotado internacionalmente (extraio dessa análise os preços das commodities, já que sua cotação é internacional).

O gráfico 2 apresenta a construção dos preços que compõe a cesta de produtos desses países em relação ao comércio internacional.


Traduz do gráfico acima que os preços dos produtos chineses estão abaixo de uma economia de mercado, conforme revelado pela letra P2. Os preços dos produtos brasileiros, devido a valorização cambial, estão acima do preço de equilíbrio, gerando uma menor procura por esses bens.

Para elevar a competitividade brasileira existem duas formas: i) elevar o nível de produtividade das empresas nacional, elevando o investimento em pesquisas e desenvolvimento, e elevando a oferta de mão de obra especializada, para que os bens brasileiros deixem de ser comuns para se tornarem raros. Para isso a indústria nacional tem que passar por uma reformulação. Deste cenário extrairemos um aumento na quantidade ofertada de bens nacionais de alta tecnologia ao resto do mundo, elevando nossas exportações líquidas e desvalorizando o câmbio até o encontro do câmbio de equilíbrio; ou, ii) diminuindo nossas exportações líquidas (o que acontece atualmente com o saldo de transações correntes), estimulando assim o consumo brasileiro por bens importados que elevem a demanda por divisas e force a escassez do dólar na economia brasileira, desvalorizando então o câmbio brasileiro em busca do câmbio de equilíbrio.

Como não podemos alterar a política chinesa por nossa vontade, deveremos realizar o dever de estimular o investimento privado brasileiro para elevação da oferta e melhorias de nossos produtos manufaturados que demandam alta tecnologia. Esta é a melhor resposta que a economia nacional pode dar para colher melhores resultados econômicos. Desta forma, a primeira resposta é que desenvolve o Brasil ao nível de país de primeiro mundo.

O que então acontece que não estimulamos a economia pela primeira alternativa? A força que a FIESP faz ao governo para controlar o câmbio, além de o déficit público brasileiro ser elevado e expansivo ao decorrer dos dias, forçando uma elevação da taxa de juro interna, atraindo divisas e forçando mais ainda uma valorização cambial.

Para estimular uma nova vertente economia brasileira, poderíamos começar pelo simples: redução da burocracia. Enquanto este serviço existir, enfrentaremos vários desserviços brasileiros, pois os agentes não se sentem estimulados em uma economia que não é de mercado.

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