terça-feira, 19 de julho de 2011

O dilema entre poupar e investir

Na teoria Keynesiana, o fluxo circular da renda é estimulado pela demanda agregada. Assim, as variáveis reais como consumo, investimento, gastos públicos e o resultado das transações correntes (exportações líquidas), conjugado com as modalidades da moeda, influenciam o crescimento econômico em períodos recessivos. Para atingir este equilíbrio em determinada economia são utilizadas duas políticas anticíclicas conhecidas como fiscal e monetária.

O agente que coordenará essas ações é o estado. Portanto, as escolhas de nossos líderes serão aquelas que influenciarão as ações de outros agentes econômicos, quais sejam: governos de países estrangeiros e os agentes privados (nacional e internacional) que negociam nessa economia.

O dilema de Keynes é estimular a economia em período recessivo, ou seja, quando a economia entra em decrescimento após períodos sucessivos de ascensão. Para isso, a visão keynesiana é baseada no resultado do Produto Nacional Bruto (PNB). Se ele tiver em um período de quedas, a hora é de acender o sinal amarelo e criar linhas de estímulos que recupere a economia para o patamar superior ou idêntico ao anterior às quedas.

O problema da visão keynesiana para clássica está na formação da poupança. Como fazê-lo? Para os economistas keynesianos a formação da poupança vem da propensão marginal a consumir decrescente. Citarei um exemplo para entendimento da visão de Keynes sobre o assunto. Imagine que você se casou e precisa investir em sua casa. Você comprará os móveis e para isso empenhará sua renda na mobília. Se ganha X, no primeiro salário você consumirá 100% dessa renda para comprar a geladeira, fogão, máquina de lavar e a cama. Após o seu segundo salário, você comprará o sofá, o armário do quarto e da cozinha. No terceiro mês, você comprará a mesa de jantar e a televisão e assim sucessivamente. Imaginemos que os bens custem o mesmo preço, ou seja, todos serão precificados como Y. Desta forma, o seu salário X é igual a 4Y.

Pelo exemplo percebemos que a taxa de poupança é de 25% ao longo do tempo. Desta forma, o seu consumo corresponde a 75% de sua renda e isto faz girar a roda da economia. A poupança que foi proporcionada a partir do segundo mês pôde ser inserida na economia de várias formas, como capital para investimento ou especulativo. Depende das ações dos agentes, que podem ser estimulados pelos instintos animais de ganhar dinheiro sem limites.

Para os keynesianos, essa reserva de poupança só foi gerada pelo estimulo ao consumo. A propensão a consumir criou os mecanismos da poupança e essa nova formação será reinvestida ou consumida, depende de cada um.

Pensemos um pouco com a racionalidade. Se a demanda por poupança aumentar, a taxa de juros tende a subir, já que o capital poupado tem reservas que não acompanham a formação dessa demanda. Na economia real keynesiana, com estimulo extra do governo na impressão de moeda e na elevação dos gastos, este problema está resolvido, logo a taxa de juros no segundo momento tende a cair, já que a demanda pela poupança diminui com o novo estoque de moeda em circulação, desestimulando a formação de poupadores para ampliar o nível de consumo presente.

Logo, ao imprimir moeda, o governo estimula os gastos e não a formação de poupança. O novo dinheiro é confundido com formação de capital adquirido pela economia produtiva e cria uma poupança artificial que poderá ser destinada ao consumo sem formação bruta de capital fixo, ou seja, sem formação de novos estoques econômicos. As empresas absorvem o novo capital e direcionam para novos investimentos a um nível de preço superior ao anterior, já que a demanda gerada com a nova moeda faz com os preços reais sejam substituídos por valores nominais e a curva de inflação acompanha esse fluxo.

Não foi gerada uma nova poupança, mas sim um novo ordenamento econômico de consumo presente em vez do consumo futuro. O dinheiro novo nada criou! Para isso, Keynes afirmaria que os homens não teriam informação suficiente para perceber os preços reais e somente valores nominais e os preços então serão rígidos. O estímulo econômico criado no curto prazo gerado diluirá a recessão e a economia voltará a operar em um perfil de crescimento, graças aos estímulos estatais.

O que sabemos que no segundo tempo teremos uma virada econômica e a farra passada cobrará o seu preço. A inflação sairá do armário e mostrará que o erro da não prática de uma economia real, baseada em preços reais, terá impacto negativo na economia.

A premissa básica do investimento e consumo advém da poupança. Novos projetos só surgirão em uma economia real quando o que for adquirido em termos monetários tenha servido de trocas nos bens e serviços reais gerados pela economia e não por medidas paliativas, como impressão de moedas e estímulos públicos para consumo presente, sem formação de renda em um tempo passado.

Não existe economia sem poupança. Assim como não existe o consumo sem a geração de riqueza, não existe investimento sem poupança. Os empreendedores só investirão em novos projetos se existir uma economia real e de mercado por trás das trocas mútuas entre os homens. Por isso existe um sistema de preços que alocará os bens e serviços produzidos com a demanda por esses bens. Toda forma contrária a isso é especulação e a economia nunca se tornará orgânica.

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