segunda-feira, 18 de abril de 2011

As contas de identidade do PIB não se harmonizam

A conta de identidade da contabilidade nacional trás consigo o lado da oferta e demanda da economia de um país. Olhando pela ótica da conta de produção, a oferta por bens e serviços é determinada pela renda das famílias (salários, aluguéis, lucros recebidos e juros), das empresas (lucros retidos e royalties), do governo (tributos e contribuições) e do setor externo de uma economia nacional (importações). Esses recursos são demandados por investimentos brutos (formação bruta de capital fixo e variação de estoques), consumo das famílias e empresas e as exportações realizadas por determinado país.

Realizei uma pesquisa no sítio do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), com base nos indicadores de conta nacional, e percebi que o consumo cresce a uma taxa maior do que o produto. O gráfico abaixo apresenta as taxas de crescimento do consumo e da produção do período compreendido entre 2000 e 2006.

Fonte: IBGE; Elaboração: Sérgio Ricardo


Nota-se daí uma dicotomia. Existe um hiato entre o que se produz e o poder de consumo. Se a economia está abaixo do potencial e a taxa de consumo é expansiva, teremos um choque de oferta e, consequentemente, uma elevação nos níveis de preços.

No período compreendido, a produção cresceu 62% e o consumo 77%. Outro dado interessante é que a média de consumo das famílias no período foi de 23%. Praticamente um quarto de tudo que é produzido pela economia é destinado ao consumo das famílias. Desta forma a economia opera com um quarto de seu produto real à destinação final. Toda a linha de investimento não produz maior valor agregado.

Para resolver este problema, a economia tem que ser aberta para absorver os recursos produzidos pelo setor externo, aumentando assim a oferta. A pressão nos preços dos itens destinados às famílias (inflação percebível no momento) deve ser suprida por um mercado aberto e com maior participação do comércio exterior.

Para acelerar uma abertura comercial, o Brasil necessita reduzir a burocracia para formação de negócios, diminuindo as barreiras de entradas para novos empreendimentos, melhorando a plataforma educacional e estrutural de questões básicas até alto padrão tecnológico.

Uma maior demanda por divisas eleva o dinamismo econômico, pois desvaloriza o câmbio, eleva as exportações e aumenta a renda nacional. Para isso existir, o câmbio tem que ser flutuante e não artificial, conforme a vontade do governo. Mas isso é para o longo prazo. No curto, o câmbio deve ser desvalorizar para rolar o déficit público e aliviar a pressão inflacionária que tanto assola o povo brasileiro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sergio,

Gostei do post. Lembro que a PMgC no Brasil é proxima a 0,75, o que nos faz parecer o tipo: Pobre metido a rico.

E lamentável que as conquistas que o pais conseguiu nos ultimos 20 anos, não tenham ainda conseguido incutir na cultura o habito da poupança e do bom consumo.

Só a educação a cultura, o respeito e o patriotismo, todos fundamentados sob a egide da liberdade, pode redimir esse país.

Um abraço!
Marcos Paulo

Unknown disse...

Grande Marcão, obrigado pela sua postagem. Realmente nossa taxa de poupança é baixa, principalmente se compararmos com outros países dos BRIC's (leia-se China).

Enquanto o Brasil não corrigir essas distorções citadas por você, continuaremos acreditando que o Brasil é melhor do que realmente é.

Abraço!
Sérgio Ricardo