sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Por que a SELIC interfere tanto nas finanças de dona Maria?

Muitas pessoas devem ser perguntar o motivo do alarde de especialistas com a taxa de juro da economia, a famosa SELIC. Muitas perguntas surgem do tipo: se o juro subir ou cair, por que tenho que preocupar? Por que os bancos gostam de uma SELIC alta? Por que a política de esquerda brasileira pede tanto a queda dos juros induzindo que quem ganha com ela alta são os banqueiros? Estas e outras perguntas surgem direto ao mainstream econômico.

Para entendermos as taxas de juros, primeiro precisamos saber o que é juro? Definindo de uma forma sucinta, juro é o preço pago em determinado período de tempo. Se o momento for curto a taxa tende a ser alta e o contrário ocorre em longo prazo.

Imagine o seguinte: você investe um capital para resgatá-lo em um, dois ou três anos. A sua meta é adquirir R$ 100,00. Se a taxa de juro for de 10%, para que no primeiro ano você atinja sua meta, você aplicará o valor de R$ 90,91; se decidir pelo segundo ano, você investirá R$ 82,64; e para o terceiro ano o valor seria de R$ 75,13. Agora imagine que a taxa é de 8%, os valores então seriam, respectivamente: R$ 92,59; R$ 85,73; e R$ 79,38. Perceba que o valor presente do capital subiu quando teve uma redução na taxa de juro. A diferença no primeiro ano foi de 1,85%, no segundo de 3,74% e no terceiro de 5,66%. O que essa situação demonstra é que o valor presente é maior quando a taxa de juros é mais baixa, revelando que as grandezas são inversamente proporcionais.

Se você é um investidor, qual a situação é escolhida? Se a taxa de juros for alta é melhor aplicar o dinheiro e consumir no futuro e se ela é baixa é melhor consumir no presente. Ou seja, a taxa de juros nada mais é do que uma variável que calcula o quanto você paga pela sua impaciência ou recebe pela paciência.

Agora voltemos à SELIC. Ela é a taxa de juros que os bancos emprestam um ao outro para fechar o seu caixa de um dia. Sérgio, como assim? Os bancos possuem títulos públicos em sua posse e esses títulos são negociados entre os bancos, mas de que forma? Toda vez que você realiza um depósito, o banco recolhe o depósito compulsório que vai direto para o cofre do Banco Central do Brasil definido por decreto. Para ilustrar melhor, vamos imaginar uma taxa de depósito compulsório em torno de 20% e que você acabou de depositar R$ 100,00 no banco A, ou seja, o banco remeterá ao Banco Central do Brasil R$ 20,00 desse depósito ao final do dia. Desse dinheiro o banco A só pode emprestar R$ 80,00, mas aparece o seu Luiz e pede emprestado R$ 90,00. O banco não quer perder negócio e empresta os R$ 90,00 ao seu Luiz. Então seu Luiz vai ao banco B e depósita os R$ 90,00 que pegou emprestado no banco A. Dessa forma, o banco B só poderá emprestar R$ 72,00 e recolherá R$ 18,00 que vai para o Banco Central. O banco B empresta R$ 62,00 à dona Ana e a história continua. Perceba que o banco B ainda tem R$ 10,00 para ser emprestado e esse dinheiro vai para… o banco A, que está devendo o Banco Central em R$ 10,00. Qual a garantia que o banco A dá para o banco B? Os títulos públicos que estão em sua posse pelo valor de mercado, ou seja, corrigidos pela SELIC (Sistema de Liquidação e Custódia). Então, quanto maior for a taxa de juros, menor é o valor presente e maior o valor futuro de face.

Agora imaginemos com números. Os títulos públicos são cheques pré datados que o governo vende para ser resgatado pelo agente que está de posse deles no dia do vencimento. Como é um cheque influiremos que o valor de face do título público negociado é de R$ 1.000,00. Se a SELIC for alta, o valor presente é menor, como no exemplo detalhado acima, e é melhor resgatar o título no futuro; se ela for baixa, o valor presente é maior e, portanto, é melhor consumir no presente. Vamos voltar no exemplo acima e imaginar as taxas de 8 e 10%.

Quando a SELIC vale 8%, o valor do título negociado é de: R$ 1.000,00/(1 + 8%) = R$ 925,93. Quando a taxa é de 10%, o título é negociado em: R$ 1.000,00/(1 + 10%) = R$ 909,09. Perceba que a diferença paga por um título negociado com uma taxa de juros menor tem uma rentabilidade menor do que àquele negociado a uma taxa de juros maior. Na taxa menor o agente detentor do título ganhará R$ 74,07, enquanto na taxa maior ele receberá R$ 90,91 de rendimentos.

Agora, meu amigo, você percebe claramente que uma taxa de juros alta aumenta o poder de barganha de quem possui títulos públicos a negociar taxas de juros mais alta em empréstimos interbancários e essa taxa ajuda a forma a CDI e, por conseguinte, os CDBs dos bancos que recolhe empréstimos de correntistas, etc, etc, etc.

O que o Banco Central faz com os depósito compulsórios? Política Monetária. Quando a economia está ruim, o Banco Central compra os títulos dos bancos, reduzindo a taxa de juro, ou seja, a SELIC, e devolve os depósitos compulsórios que ele retirou dos bancos. Como a taxa de juros reduziu, os bancos perdem o incentivo de negociar com outros bancos e negociam com… a dona Maria.

Pois é, agora aparecem as finanças da dona Maria. Com mais dinheiro em caixa, os bancos são estímulados a emprestar aos seus correntistas, já que provoca receita pela quantidade de empréstimos e não pelo preço do título (que no caso é a SELIC).

Quando a dona Maria recebe o dinheiro emprestado, ela compra as verduras do seu Zé, que compra carne do seu Antônio, que vai ao cinema com a namorada, e assim sucessivamente.

Agora, meu amigo, o Banco Central tem que ficar de olho é na inflação. Não tem ser vivo que aguente o dragão, principalmente quando ele está incontrolável. Vou parando por aqui, pois meu artigo está longo e cansativo. Voltarei em outros para explorarmos melhor o assunto!

Um comentário:

Anônimo disse...

Economia talvez seja a área mais dinâmica, pareçe muito com a teoria das cordas em física, uma mudança desecandeia várias outras, e assim sucessivamente, e muitas vezes mudanças pequenas.