quinta-feira, 23 de setembro de 2010

No Brasil, o nível burocrático reduz a eficiência

Este tema foi sugerido pelo meu amigo Marcos Paulo, economista que estudou comigo na Universidade Católica de Brasília – UCB. O que quero com este artigo é entender o motivo do nível educacional (e não só ele) ser discurso fácil nas palavras de qualquer político, ainda mais em campanha eleitoral, sabendo-se de sua complexidade. Mas, para mim, não otimizamos esse e outros recursos devidos a algumas variáveis que travam o seu nível de eficiência, dentre elas a burocracia.

Lendo artigo enviado pelo meu amigo, pude notar a distância que estamos do verdadeiro desenvolvimento. O governo vangloria de criar empregos, o que acho válido, mas a maioria não sabe que os empregos gerados na economia do Brasil hoje são em campos operacionais, que demandam baixa capacitação técnica. Importamos as cabeças dos projetos e empregamos nacionalmente os operários. São engenheiros e mais engenheiros que desembarcam no país para serem os gerentes dos projetos em uma estratégia corporativa conhecida como Offshore.

Por que então não formamos melhores talentos que assumam esses projetos que demandam o país atualmente? Simples a resposta: pela alta burocracia. Como sabemos que ela é o mal de tudo isso? Pelas perdas de eficiência econômica. Os agentes não estão seguro de novos investimentos devido aos custos operacionais.

Explicarei detalhado o que quero dizer. Vejamos: para gerar um excelente profissional em longo prazo, em princípio demandaremos todo um projeto de infra-estrutura, começando pelas leis que regularão as relações entre as pessoas até os projetos básicos para garantir um bem-estar aquele cidadão, como saneamento, um bom projeto urbanístico de locomoção e ofertas públicas de geração de conhecimento, como as bibliotecas. Nos Estados Unidos e na Europa as universidades são rodeadas de campos e jardins e isoladas dos grandes centros, justamente para fluir melhor o processo de pensamento dos novos profissionais que adentrarão o mercado e serão provedores de opiniões, por exemplo. É um cenário que gera grandes externalidades positivas, vide o número de pesquisadores que ganham prêmios Nobel ano após ano.

Sabendo-se disso, vemos que o Brasil anda contra a maré. Transporte público de péssima qualidade, resultando na falta de mobilidade em trânsito de pessoas e automóveis em grandes aglomerados, universidades e escolas públicas sucateadas, saúde que não previne e não cura pandemias e/ou epidemias e um nível de necessidade enorme para provar qualidades.

No Brasil, um bom professor é aquele que reserva seu tempo livre para publicar artigos tão somente. Os empreendedores não estão nessa escala ótima de bons educadores (somente alguns que passam anos para serem reconhecidos). As bolsas que o governo gera como as dos CNPq e Capes vem acompanhada por uma trilha enorme de provações por parte dos pensadores que quando olhamos a barreira de comprovantes necessários para adquirir tal estímulo, verificamos a demora nas pesquisas e o desinteresse de uma grande parcela de pesquisadores que preferem recorrer a recursos próprios (quando os têm) para elevar o nível de conhecimento e gerar externalidades positivas para sociedade brasileira. Isso quando os fazem, pois no resto do mundo a oferta para novas pesquisas são mais fáceis e o estímulos são melhores, só basta o brasileiro querer e se esforçar para ter. Para isso existe a meritocracia que mediará o grau da importância em investir em pessoas que gerarão resultados.

Para se ter uma ideia do nível burocrático que a sociedade brasileira está pautada é olharmos o mercado de trabalho. Dizem que as leis trabalhistas garantem o direito do trabalho, onerando as empresas com viés social. Mas os melhores profissionais de mercado e que possuem os melhores salários não são contratados pela CLT. Por que será? Burocracia! Se a lei fosse social, como pretende ser, porque temos tantas pessoas vendendo balinha, engraxando sapatos ou até mesmo sendo músicos e estatuas em praças públicas para gerar recursos? Onde está a CLT nessas situações?

O que vemos é a burocracia decidindo sobre a liberdade dos agentes econômicos em suas escolhas, fazendo com que percamos mobilidades nas tomadas de decisões.

Geramos empregos? Sim. Estratégicos? Talvez. Quando existe escassez de capital ele será mais valorizado que o trabalho. Existe um trade-off nessa relação e todos sabem disso, menos o estado. Para ter valorização no trabalho, deve-se aumentar a oferta de capital e o trabalho se tornará mais valorizado, principalmente os que têm melhores níveis educacionais e estratégicos, que estão mais que escassos no Brasil. Alocaremos este mercado oferecendo melhores preços nessa economia.

No Brasil os melhores preços estão no serviço público e que distorcem o nível de eficiência econômica, gerando em contrapartida mais burocracia. É assim que o Brasil anda, diminuindo o welfare state. Verdadeiro desenvolvimento econômico, pra quê? Papo chato esse, né!

2 comentários:

Anônimo disse...

"No Brasil, um bom professor é aquele que reserva seu tempo livre para publicar artigos tão somente."

"Os empreendedores não estão nessa escala ótima de bons educadores (somente alguns que passam anos para serem reconhecidos)."

Na veia Serjão!!!

Era exatamente sobre esses dois aspectos que gostaria que vc escrevesse. Há muito técnico, bacharela com nível de conhecimento e capacidade didática maior que varios pesquisadores baratos que pouco se importam com o insumo principal do desenvolvimento: o capital humano!!!

A VAIDADE (que vem antes do compromisso/seriedade) rola solta nos centros de pesquisa no Brasil e a competição para publicar em revistas internacionais, direciona os artigos para temas pouco relevantes ao desenvolvimento do nosso país.

Creio que devamos valorizar mais o EMPREENDEDORISMO a INOVAÇÃO a parceria entre a INDUSTRIA e a UNIVERSIDADE a pesquisa direcionada a questões práticas é não aquela que apenas sirva para inflar o ego do seu autor.

Veja a LUCIDEZ com que o economista Eduardo Gianetti trata esse tema no ótimo site da revista Dicta & Contradicta:

http://www.dicta.com.br/tags/eduardo-giannetti/

Unknown disse...

Meu amigo Marcos Paulo, obrigado pelas palavras postas neste comentário e a indicação do site para todos que quiserem acompanhar a excelente palestra do professor Eduardo Giannetti da Fonseca. Realmente, qual a sociedade que os pesquisadores estão produzindo? Eu acho que a palestra foi uma forma de eu auto me avaliar e direcionar meu pensamento para formar premissas que enriqueçam o nosso país. Pretendo partir ao caminho certo e eu agradeço de coração a sua participação neste blog no qual enriquece e muito com seus comentários e temas desafiadores para mim. Que eu não fique apenas no papo e sim na ação.

Obrigado amigão e continue participando.

Abraço!
Sérgio Ricardo