terça-feira, 16 de novembro de 2010

Se os preços das passagens de ônibus fossem flexíveis, melhoraria o sistema?

Muitas pessoas discutem o motivo do transporte público urbano das grandes cidades serem de péssima qualidade. Esse tema é instigante e chamou a minha atenção hoje por várias razões que revelarei aos meus amigos leitores logo abaixo.

Assistindo ao Bom Dia Brasil, deparei-me com o comentário da “sapiência” na área econômica, Miriam Leitão, comentando reportagem que tratava de empreendedorismo e que acabará de apresentar a vida de uma mulher que utiliza três ônibus para ir de sua casa ao trabalho, acordando todos os dias às 03:30 hs da madrugada para chegar ao serviço às 06:00 hs. A conclusão proposta pela jornalista é que o governo melhore a oferta de ônibus para suportar a demanda de trabalhadores que utilizam rotineiramente esse serviço público.

Sendo o transporte público rodoviário uma concessão do estado à iniciativa privada, o governo deveria fiscalizar os serviços e cobrar das empresas que operam no setor a ampliação das frotas e a melhora na qualidade dos serviços.

Olhando pela ótica da teoria econômica, o que acontece com este mercado para ele ser tão ineficiente? É o que pretendo responder ao utilizar a visão ortodoxa da economia clássica.

A questão intrigante é que os preços desse mercado não são flexíveis. Mas, de quem é a culpa? Do governo. Por quê? Porque ele transmite a concessão à iniciativa privada e define as estratégias desse mercado, com a ameaça de intervenção quando o setor não é eficiente para a população. Duas formas de coação são o controle de preços e a pressão sobre a produtividade dos trabalhadores nessa economia.

Se o governo abrisse processo licitatório para contratar empresas que ofertam melhores ônibus e retirasse o monopólio das organizações que atuam há mais tempo no mercado e já se “acostumaram” com os ganhos em um mercado fechado com poucas empresas atuando, diminuindo a oferta de bens e serviços, resolveria parte do problema.

Se os preços fossem determinados pelo mercado e o governo fosse mais ágil no processo licitatório, o que ocorreria? Inicialmente os preços aumentariam, afetando diretamente os rendimentos do trabalhador. Como preço é um fator atrativo de mercado, outras empresas se interessarão por participar do processo licitatório e ofertarão novos ônibus. Com a demanda reduzida e com uma oferta maior de transporte rodoviário, os preços tenderão a reduzir para atrair consumidor, elencando então a uma trajetória de equilíbrio entre oferta e demanda.

Recapitulando: o governo flexibiliza o preço da passagem de ônibus e abre processo licitatório para novas empresas atuarem nesse mercado. Os preços inicialmente aumentarão, elevando as expectativas de novos empreendedores nessa economia. Dessa forma, as empresas que estão no mercado melhorarão a oferta de bens e serviços (aumentando a quantidade e a qualidade dos ônibus com melhores tecnologias para operarem no mercado), reduzindo-se os preços, por fim, para buscar a demanda perdida com o aumento inicial nos preços das passagens.

No final das contas, o mercado estaria com uma oferta melhor de ônibus qualificados e aprovados pela população e em um nível de preço equilibrado, de acordo com a oferta e demanda de bens e serviços rodoviários.

Outra forma de diminuir a demanda por transporte público é descentralizar os grandes centros urbanos, que contratam trabalhadores em toda a cidade e em suas regiões periféricas. Se ampliarmos a oferta de bons empregos em cidades circunvizinhas às grandes metrópoles, diminuiríamos a quantidade de mão de obra nos grandes centros urbanos e descentralizaríamos a produção, pois a maioria da população de uma metrópole é residente de regiões distantes. O resultado desse contexto é a geração de renda e emprego à população como um todo.

Resumindo: é fácil resolver o problema. Para isso acontecer, a vontade política tem que existir e a população aceitar o desafio. No primeiro momento haverá uma piora no bem-estar social, mas os retornos futuros serão garantidos em médio e longo prazo. O lance que o governo não joga limpo e condena os empresários, como se eles fossem os únicos culpados pela ineficiência no sistema.

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